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A lua feticeira e a sua filha

Uma lenda de Moçambique

 

A lua tinha uma filha branca e em idade de casar. Um dia apareceu-lhe em casa um monhé* pedindo a filha em casamento. A lua perguntou-lhe:- Como pode ser isso, se tu és monhé? Os monhés não comem ratos nem carne de porco e também não apreciam cerveja... Além disso, ela não sabe pilar."

O monhé respondeu: "Não vejo impedimento porque, embora eu seja monhé, a menina pode continuar a comer ratos e carne de porco e a beber cerveja... Quanto a não saber pilar, isso também não tem importância pois as minhas irmãs podem fazê-lo. A lua, então, respondeu: "Se é como dizes, podes levar a minha filha que, quanto ao mais, é boa rapariga."

O monhé levou consigo a menina. Ao chegar a casa foi ter com a sua mãe e fez-lhe saber que a menina com quem tinha casado comia ratos, carne de porco e bebia cerveja, mas que era necessário deixá-la à-vontade naqueles ábitos. Acrescentou também que ela não sabia pilar mas que as suas irmãs teriam a paciência de suprir essa falta.

 

Dias depois, o monhé saiu para o mato à caça. Na sua ausência, as irmãs chamaram a rapariga (sua cunhada) para ir pilar com elas para as pedras do rio e esta desatou a chorar.
As irmãs censuraram-na: "Então tu pões-te a chorar por te convidarmos a pilar?... Isso não está bem! Tens de aprender porque é trabalho próprio das mulheres.". E, sem mais conversas, pegaram-lhe na mão e conduziram-na ao lugar onde costumavam pilar.

Quando chegaram ao rio puseram-lhe o pilão na frente, entregaram-lhe um maço e ordenaram que pilasse. A rapariga começou a pilar mas com uma mágoa tão grande que as lágrimas não paravam de lhe escorrer pela cara. Enquanto pilava ia-se lamentando: "Quando estava em casa da minha mãe não costumava pilar..."

Ao dizer estas palavras, a rapariga, sempre a pilar e juntamente com o pilão, começou a sumir-se pelo chão abaixo, por entre as pedras que, misteriosamente, se afastavam. E foi mergulhando, mergulhando... até desaparecer.

Ao verem aquele estranho fenómeno, as irmãs do monhé abandonaram os pilões e foram a correr contar à mãe o que acontecera. Esta ficou assustada com a estranha novidade e tinha o coração apertado de receio quando chegou o monhé, seu filho. Este, ao ouvir o relato do que acontecera à sua mulher, ralhou com as irmãs, censurando-as por não terem cumprido as suas ordens. Apressou-se a ir ter com a lua, sua sogra, para lhe dar conta do desaparecimento da filha.

 

A lua, muito irritada, disse: "A minha filha desapareceu porque não cumpriste o que prometeste. Faz como quiseres, mas a minha filha tem de aparecer!"

"Mas como posso ir ao encontro dela se desapareceu pelo chão abaixo?"

A lua mudou, então, de aspecto e, mostrando-se conciliadora, disse: "Bom, vou mandar chamar alguns animais para se fazer um remédio que obrigue a minha filha a voltar... Vai para o lugar onde desapareceu a minha filha e espera lá por mim."

O monhé foi-se embora e a lua chamou um criado ordenando: "Chama o javali, a zebra, a gazela, o búfalo e o cágado e diz-lhes que compareçam, sem demora, nas pedras do rio onde desapareceu a minha filha". O criado correu a cumprir as ordens e os animais convidados apressaram-se para chegar ao lugar indicado. A lua também para lá se dirigiu com um cesto de alpista.

Quando chegou ao rio, derramou um punhado de alpista numa pedra e ordenou ao porco que moesse. O porco, enquanto moía, cantou: "Eu sou o javali e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!".

Nesse momento ouviu-se a voz cava da menina que, debaixo do chão, respondia: "Não te conheço!". O javali, despeitado, largou a pedra das mãos e afastou-se cabisbaixo..

Aproximou-se em seguida a zebra e, enquanto moía, cantou: "Eu sou a zebra e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!". Ouviu-se novamente a voz da menina que dizia: "Não te conheço!"

A gazela e o búfalo ajoelharam também junto do moinho, fazendo a sua invocação, mas a menina deu a ambos a mesma resposta: "Não te conheço!"

 

Por último, tomou a pedra o cágado e, enquanto moía, cantou: "Eu sou o cágado e estou a moer alpista para que tu, rapariga, apareças ao som da minha voz!". A menina cantou, então, em voz terna e melodiosa: "Sim, cágado, à tua voz eu vou aparecer!"

E, pouco a pouco, a menina começou a surgir por entre as pedras do rio, juntamente com o pilão, mas sem pilar. Quando emergiu completamente parou e ficou silenciosa. Os animais juntaram-se todos, curiosos, à volta da menina.

Então, a lua disse: "Agora a minha filha já não pode continuar a ser mulher do monhé pois ele não soube cumprir o que me prometeu. Ela será, daqui para o futuro, mulher do cágado, pois só à sua voz é que ela tornou a aparecer".

Então o cágado levantou a voz dizendo: "Estou muito feliz com a menina que acaba de me ser dada em casamento e, como prova da minha satisfação, vou oferecer-lhe um vestido luxuoso que ela vestirá uma só vez, pois durará até ao fim da sua vida". E, dizendo isto, entregou à menina uma carapaça lindamente trabalhada, igual à sua.

Da ligação do cágado com a filha da lua é que descendem todos os cágados do mundo...

NOTA:
Monhè: comerciante indiano

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